Ponto de encontro da turma da noite de antropologia, do ISCTE, 2001-2005
Quarta-feira, 31 de Maio de 2006
Ainda sobre uma paixão chamada educação
            Nota: não pareça teimosia a minha insistência no tema, mas se a senhora ministra se farta de dar pretextos...
 
   Na noite de ontem a RTP 1 prestou serviço público, com a transmissão da reportagem “quando a violência vai à escola” e a realização de um pequeno debate sobre o tema, logo a seguir. Digo que prestou serviço público, porque optou por levar à antena, em horário nobre, um tema com relevância social, além de escolher tratá-lo de modo ponderado e não cedendo ao facilitismo, à demagogia e ao simplismo da popularidade mediática.
   Pareceu-me interessante uma ocasional coincidência que assim se proporcionou. No mesmo dia em que a televisão dedica à escola uma atenção não muito usual, a senhora ministra anuncia ao país mais uma das suas brilhantes iniciativas.
   O que ontem preocupava a inefável ministra era um possível conluio de professores e funcionários das escolas para escolherem as melhores turmas e horários para os seus filhos, assim prejudicando os restantes honestos cidadãos deste país. É uma situação que deve ser considerada, sem dúvida, mas também indubitavelmente uma situação de relevância muito particular. E ao escolher trazê-la para os media, a ministra vem empolá-la, provocando uma generalização abusiva com efeitos perversos. Fê-lo involuntariamente? Francamente, parece-me muita coincidência que quase todas as medidas desta senhora tenham como efeito aumentar o descrédito da classe docente, já de si tão debilitada e desrespeitada (e na minha opinião, ao contrário do que dizia ontem  o meu amigo José Raposo, não formando um grupo particularmente corporativo, nem com especial força reivindicativa).
   Assim, ontem teremos assistido a uma inversão de papéis particularmente interessante. A televisão, que mais nos tem habituado ao entretenimento ou a alguma vacuidade de ideias, adoptou uma postura séria e agiu em nome do interesse geral. A senhora ministra, autoridade de quem se espera seriedade e zelo pelo bem comum, brindou-nos com mais este episódio do seu burlesco mandato, que se não fosse trágico seria cómico...
   No fundo, no fundo, amigos, confesso que até acho poder vislumbrar-se uma lógica em toda a actuação da senhora ministra da educação. Mas é precisamente essa lógica meio oculta e totalmente despudorada que receio...
   Enfim, se algum resto de ironia ainda me sobra de toda esta triste história, diria que até a célebre ideia dos pais avaliarem os professores se inclui nas bem intencionadas políticas da ministra. É que, usando como arma essa avaliação, os diligentes papás sempre escusam de ir para a escola à cacetada, diminuindo-se assim a violência contra os professores... (Zé Paulo)


publicado por antmarte às 17:07
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7 comentários:
De José Raposo a 5 de Junho de 2006 às 17:04
Meu amigo, vejo-me forçado a devolver-lhe a questão até porque considero que essa questão não é a essencial. Mas a existência de um espírito corporativo não tem de estar necessariamente associado à influência que esse determinado grupo tem, mas sim à influência que esse determinado grupo pretende ter. Tal como o meu amigo considera não haver nenhuma medida que o "corporativismo" dos professores possa ter influenciado, tb é possível dizer-se que nunca houve nenhuma medida com a qual os professores tenham concordado, independentemente da cor do governo.


De Zé Paulo a 5 de Junho de 2006 às 17:26
Depois do "Diga Lá Excelência" de ontem, penso que é melhor deixar a discussão por aqui...


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