Nota: não pareça teimosia a minha insistência no tema, mas se a senhora ministra se farta de dar pretextos...
Na noite de ontem a RTP 1 prestou serviço público, com a transmissão da reportagem “quando a violência vai à escola” e a realização de um pequeno debate sobre o tema, logo a seguir. Digo que prestou serviço público, porque optou por levar à antena, em horário nobre, um tema com relevância social, além de escolher tratá-lo de modo ponderado e não cedendo ao facilitismo, à demagogia e ao simplismo da popularidade mediática.
Pareceu-me interessante uma ocasional coincidência que assim se proporcionou. No mesmo dia em que a televisão dedica à escola uma atenção não muito usual, a senhora ministra anuncia ao país mais uma das suas brilhantes iniciativas.
O que ontem preocupava a inefável ministra era um possível conluio de professores e funcionários das escolas para escolherem as melhores turmas e horários para os seus filhos, assim prejudicando os restantes honestos cidadãos deste país. É uma situação que deve ser considerada, sem dúvida, mas também indubitavelmente uma situação de relevância muito particular. E ao escolher trazê-la para os media, a ministra vem empolá-la, provocando uma generalização abusiva com efeitos perversos. Fê-lo involuntariamente? Francamente, parece-me muita coincidência que quase todas as medidas desta senhora tenham como efeito aumentar o descrédito da classe docente, já de si tão debilitada e desrespeitada (e na minha opinião, ao contrário do que dizia ontem o meu amigo José Raposo, não formando um grupo particularmente corporativo, nem com especial força reivindicativa).
Assim, ontem teremos assistido a uma inversão de papéis particularmente interessante. A televisão, que mais nos tem habituado ao entretenimento ou a alguma vacuidade de ideias, adoptou uma postura séria e agiu em nome do interesse geral. A senhora ministra, autoridade de quem se espera seriedade e zelo pelo bem comum, brindou-nos com mais este episódio do seu burlesco mandato, que se não fosse trágico seria cómico...
No fundo, no fundo, amigos, confesso que até acho poder vislumbrar-se uma lógica em toda a actuação da senhora ministra da educação. Mas é precisamente essa lógica meio oculta e totalmente despudorada que receio...
Enfim, se algum resto de ironia ainda me sobra de toda esta triste história, diria que até a célebre ideia dos pais avaliarem os professores se inclui nas bem intencionadas políticas da ministra. É que, usando como arma essa avaliação, os diligentes papás sempre escusam de ir para a escola à cacetada, diminuindo-se assim a violência contra os professores... (Zé Paulo)