Ponto de encontro da turma da noite de antropologia, do ISCTE, 2001-2005
Quarta-feira, 30 de Novembro de 2005
Nas ondas da rádio
I'd sit alone and watch your light
My only friend through teenage nights
And everything I had to know
I heard it on my radio
Radio. (Queen- Radio Ga-Ga)
Neste nosso mundo do turbilhão das imagens, em que mal vemos ou sabemos o que vemos, a rádio pode ainda encher os nossos dias.
Imaginem que acordam numa qualquer madrugada ao som das notícias e da meteorologia. Logo ficarão a saber que estará um dia frio, sem chuva, mas frio, o que vos permitirá precaverem-se com agasalhos.
Imaginem também que enquanto se vestem ouvirão dizer nas informações de trânsito que está um cavalo à solta na A5. Sorrirão espantados, mas logo se confirmará a autenticidade da notícia, ao mesmo tempo que um António Macedo lírico evocará o Cavalo à Solta do Ary, cantado pelo Tordo.
Imaginem que ouvem dizer Pessoa logo na emissão da manhã, talvez porque passem setenta anos sobre o seu desaparecimento.
Um qualquer dia pode ser muito diferente, se das ondas da rádio vier esse toque de magia que nos encanta e alegra a disposição logo desde a manhã.
Nesse dia podemos até esforçarmo-nos mais um pouco para chegarmos mais cedo ao trabalho, a tempo ainda de ouvirmos os Sinais do Fernando Alves. Esse dia pode ser um dia qualquer. Como hoje. (Zé Paulo)
Terça-feira, 29 de Novembro de 2005
Assim já fica marcado...
(com um agradecimento ao amigo Fonseca, também pelo link criado aqui para Marte) (Zé Paulo)
Sábado, 26 de Novembro de 2005
Ás vezes fico triste no Natal
O BURGUÊS
A gravata de fibra como corda
amarrada à camisa mal suada
um estômago senil que só engorda
arrotando riqueza acumulada.
Uma espécie de polvo com açorda
de comida cem vezes mastigada
cadeira de braços baixa e gorda
de cómoda com perna torneada.
Um baú de tolice. Uma chatice
com sorriso passado a purpurina
e olhos de pargo olhanando de revés.
Para dizer quem é basta o que disse
é uma besta humana que rumina
é um filho da puta é um burguês.
Ary dos Santos
Liberdade
Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
Transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhoso de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.
Armindo Rodrigues
A Economia do Natal
E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?
Almeida Garrett, in 'Viagens na minha Terra'
Sexta-feira, 25 de Novembro de 2005
25 de Novembro
À memória de Ernesto Melo Antunes
Trinta anos depois, caminhamos a teu lado.
Não vivemos a nossa democracia com rancor da revolução, ou com o fel do fim de festa, mas com a vontade de ainda tentar fazer brotar a semente esquecida nalgum canto do jardim. (Zé Paulo)
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Chico Buarque, Tanto Mar, 1978 (2ª versão)
Quinta-feira, 24 de Novembro de 2005
No quadro...
(Dedicado ao Gonçalves)
"Hoje não há Métodos"
Terça-feira, 22 de Novembro de 2005
Ainda sobre saídas profissionais
No Marquês de Pombal vês dois tipos pendurados em cordas a descerem de um prédio alto. Estão a desmontar uma enorme faixa pubicitária. Do pouco que percebes da coisa, parece-te estarem a fazer o que se chama rappel.
E instantaneamente ocorre-te a ideia de que até os desportos radicais podem ter mais saídas profissionais do que o teu curso... (Zé Paulo)
O NATAL ESTÁ PRÓXIMO
Amigos e colegas da Antropologia, falta um mês para o Natal. Está na altura, penso eu, de
começar a pensar no Jantar de Natal. O que acham da ideia?? (Sérgio Fonseca)
Segunda-feira, 21 de Novembro de 2005
As lágrimas de Schroeder
Numa cerimónia de despedida de chanceler da Alemanha Gerhard Schröder comoveu-se. Havia pedido que tocassem músicas de Frank Sinatra, para dedicar à mulher, e aos acordes de My Way não conteve algumas lágrimas.
Poder-se-iam tecer múltiplos comentários sobre este gesto, de teor mais ou menos simpático. Mas imaginemos livremente as razões das lágrimas de Schröder.
Comoção final, na hora de passar o testemunho, nesse breve instante em que se revê todo um percurso, com o sentido da missão cumprida?
Ou seria a emoção do malogro, do cansaço e do regresso ao aconchego do lar, depois de tantas e tão duras batalhas?
Pior seria se as lágrimas de Schröder fossem as da nossa desilusão, a constatação resignada de uma descoberta final, a da impossível utopia de ser governo à esquerda... (Zé Paulo)